Os Cientistas – Charles Darwin

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Charles Darwin (1809-1882)

Das maneiras mais diversas, recorrendo a conceitos extremamente ingênuos ou a outros muito elaborados e complexos, o homem sempre tentou explicar a origem da vida. As primeiras teorias criteriosas, que podem revelar uma certa atitude científica, surgiram com os pensadores gregos. Elas já eram parcialmente despidas do misticismo e da religiosidade que haviam caracterizado a postura dos filósofos orientais frente ao problema da vida, No entanto, embora tivessem intuições excepcionais — Empédocles de Agrigento, por exemplo, achava que as plantas haviam precedido os animais — aceitavam também tranquilamente que organismos vivos surgissem espontaneamente da lama. Aristóteles acreditava que seres elaborados, como os peixes, viessem do lodo. É a doutrina da “geração espontânea”, que defende a possibilidade de seres vivos, completos e complexos, se originarem da matéria inorgânica. Com a decadência grega, a caminhada da humanidade nesse sentido parou: durante cerca de 2000 anos não se discutiu a origem da vida e a evolução biológica. A fixidez das espécies era dogma: a geração espontânea, aceita. Até o século XIX, quando a evolução recebeu um tratamento dinâmico, existiam apenas “receitas” para a produção de seres vivos organizados. Durante o Renascimento, porém, assiste-se a uma mudança do pensamento humano em relação à natureza. Surgem os primórdios da Embriologia, ramo da Ciência que forneceria provas importantes para a teoria da evolução: a anatomia comparada, que daria diversos elementos de suspeita para Darwin; quanto à mutabilidade das espécies: a microscopia, fonte de inúmeros elementos para os diversos estudos da História Natural. Ao longo do século XVIII, o método científico de observação e indução firma-se paulatinamente. Com Charles Bonnet, o termo “evolução” é posto em uso. Com Leibniz, esboça-se a idéia de continuidade evolutiva das espécies, ascendendo em linha reta. Com Lamarck, conclui-se pela ascendência ramificada. Finalmente, com Darwin, introduz-se o conceito de seleção natural. E, com a Genética moderna, completa-se a resposta dc Darwin para a dinâmica evolutiva

FIXISTAS OU ADEPTOS DO CATASTROFISMO

Nomes como Lineu, Erasmus Darwin, Buffon e Cuvier contam também uma história da evolução. Mas, com exceção de Erasmus, todos eles oscilam entre as “hipóteses fixistas” e as “teorias das catástrofes”. Trabalhando na Suécia e, posteriormente, na Holanda, Lineu criou a nomenclatura binária e propôs-se a tarefa de sistematizar a natureza. Nesse gigantesco trabalho, adotou a posição de defensor da fixidez das espécies e da invariabilidade das mesmas através dos tempos. Nessa mesma época. surgiu na cidade inglesa de Breadwall um longo poema didático — a Zoonomia, ou “Leis da Vida”, de Erasmus Darwin (1731-1802). Nele se falava de origem da vida e evolução, da luta pela existência, da seleção sexual dos machos mais belos e mais fortes. Aceitava-se também o uso e desuso progressivo dos órgãos, transmitido aos descendentes, como causa da evolução. Mas as idéias de Erasmus eram muito avançadas para a época: seus opositores — os adeptos da criação imutável — venceram.

Com suas “catástrofes “e sua fixidez das espécies”, o poderoso Cuvier (acima) impediu, durante anos, a aceitação de esquemas evolutivos, como o proposto por Erasmus Darwin.

Na França. George Louis Leclere. o Conde de Buffon. tentava também esboçar uma teoria da evolução. Partici-pando. ainda que veladamente, do mo-vimento enciclopedista. enunciou nos artigos de zoologia alguns princípios que chocaram até os simpatizantes da “subversão da mentalidade geral”. Em sua Teoria da Terra, Buffon des-truía as noções dos diluvianos. a inter-pretação dos fósseis de Lineu. as tradi-ções do Génese. Referindo-se ao planeta Terra, ele comenta: “Illà muito tempo, a Terra era um pedaço do Sol que se des-prendeu c, pouco a pouco. foi esfriando no espaço. Só quando essa fagulha do céu atingiu um certo grau de arrefeci-mento. começou a vida. Porque a vida não é nenhuma salamandra da fábula. que pode viver no fogo, mas num inter-valo entre o calor do Sol e o frio glacial. Representa apenas um breve episódio do nosso planeta”. Para comprovar o tempo desse inter-valo, fez uma experiência bem arrojada para a época, apesar de não concordar com a realidade. Aqueceu duas esferas de metal. até a incandescência. e dei-xou-as esfriar, marcando dois momen-tos: quando podiam ser tocadas sem que se queimassem os dedos e quando a temperatura correspondia à tempera-tura média de Paris. Aplicou esses nú-meros a uma esfera do tamanho da Terra. e concluiu que ela levaria 168 123 anos para atingir a temperatura do gelo. A Terra teria 74 832 anos: e, a partir de 40 291 anos atrás. poderia ter existido vida. Eram números muito dife-rentes dos fornecidos pelo Génese. Buí fon afirmou ainda que tais fatos valiam para o universo todo, que havia uma evolução do conjunto. como também existiam outros planetas com vida. A especulação de Buffon estendeu-se à Paleontologia. Tomando a interpre-tação dos fósseis de Jean Étienne Cucu tard, introduziu-a no seu romance da Terra Afirmou que os seres vivos deve-riam acompanhar as transformações do planeta — desaparecendo e surgindo de novo, numa seqüência de revoluções terrestres. Os fósseis seriam “restos dc formas desaparecidas”. valiosos, por-tanto. no estudo do passado da Terra. Esse conjunto de idéias teve, porém. sua grande falha: reduziu a história da Terra a uma seqüência dc violências intercaladas por períodos de calma. Cada período de violência destruía a vida existente. para que no período de calma voltasse a surgir. Era’ o primeiro esboço daquilo que mais tarde se cha-mou dc “teoria das catástrofes”. de Cu-vier e Aaassiz. Não se trata, realmente. de uma teo ria. mas de um amontoado de idéias vagas e confusas. que defende ter havi-do na história do planeta uma série de catástrofes, cada uma das quais destruía toda a flora e fauna de uma era. Cabia ao Criador repovoar a Terra. As obras de Ruffon, em particular a Teoria da Terra, levantaram grande celeuma nos meios oficiais. E um homem conceituado como ele teve que ouvir, sem replicar, o que o advogado geral. M. de Séguier. tinha a dizer “sobre os cientistas que apóiam o mate rialismo. destroem a religião, propagam o desregramento e favorecem a dissolu-ção dos costumes-. O Conde foi obrigado a publicar uma retratação. declarando: “Abro mão de tudo que afirmei no meu livro a respeito da formação. da Terra c. em geral. de tudo que contrarie a narração de Moi-sés-. Durante o conturbado período que precedeu a Revolução Francesa. Buffon procurou um preceptor para seu filho. Encontrou-o num homem pacato. muito interessado cm assuntos ligados à natu-reza. Seu nome: Jean Baptiste Piare Antoine de Monet Lamarck.

O tímido e pacato Lamurck foi outra vítima de Curier: por ter a audácia de propor uma explicação das causas evolutivas. viveu uma velhice miserável e morreu no esquecimento. Mas essa injustiça seria reparada: ao elaborarem. independentemente. a teoria da evolução. Darwin (à esquerda) e Wallace (à direita) ressaltariam o mérito do desacreditado evolucionista.

Durante a viagem de cinco anos no veleiro Beagle (ao lado). Darwin fortaleceu sua convicção nas idéias esboçadas por seu me. Erasmus, e na teoria de Lamarck. Comparando as espécies animais e vegetais dos diversos lugares visitados, passou a aceitar a evolução como única explicação racional para a diversidade e continuidade das espécies.

O ENGANO DE LAMARCK OU LAMARCKISMO

Lamarck vivia isolado no Jardin des Plantes. e a Revolução foi a única coisa distante da natureza que também o entusiasmou. É “ao povo que soube libertar-se” que ele dedica a Philosophie Zoologique, publicada em 1809 — ano em que nasceu Charles Robert Darwin. Nesse clássico. Lamarck afirma que existe evolução e que ela é a única expli cação para a existência de espécies dife rentes. Falha, porém, ao explicar como essa evolução acontece, na medida em que aceita a herança das modificações individuais adquiridas durante a vida, por reação direta ao ambiente. Justifica, por exemplo, a existência. em cenas cavernas, dc populações de peixes cegos através do atrofiamento dos olhos — por reação à falta de luz-Quando esses peixes foram viver em lugares escuros, os olhos começaram a perder sua função: continuando. em cada nova geração, o desuso dos olhos. cada vez mais eles se atrofiaram: cada vez mais. também, essa tendência era transmitida de pai para filho: chegou um ponto cm que os olhos perderam completamente sua antiga função: e. daí em diante, todos os animais passaram a nascer cegos. Surgiu então, por acú-mulo de variações, uma nova espécie: a dos peixes cegos. Ainda segundo o raciocínio de Lamarck, a girafa teria tido ancestrais de pescoços curtos — submetidos, porém. a freqüentes distensões. a fim de que o animal pudesse alcançar a folhagem das árvores. Os descendentes apresentariam pescoços mais longos. também estica-dos freqüentemente. à procura de ali-cato. Finalmente, o contínuo estica-mento do pescoço teria dado origem às modernas girafas, com seus longos pescoços. Explicação bem diferente seria apre sentada por Darwin: as girafas antes trais apresentavam pescoços de compri mentos variáveis. sendo essas variações hereditárias: competição e seleção natu ral levaram apenas à sobrevivência das espécies de pescoços compridos. Muito injustamente. é com esse erro da herança das modificações adquiridas em vida que comumente se identifica o lamarckismo. Ele não diminui, porém. a importância da contribuição de La-marck: numa época em que os dados acumulados não permitiam outra expli-cação para a evolução, seu esforço de síntese foi altamente produtivo. E o fato de ter aceitado a existência de evolução já é cm si um avanço: ele opõe-se fron talmente à teoria dos ftxistas e dos defensores do catastrofismo. Lamarck foi também o primeiro a mostrar que as árvores genealógicas das espécies são ramificadas: que entre as espécies afins atuais as relações não são de descendência. mas que provêm dc um ramo comum; que a natureza tem muito mais tempo de agir do que se supunha. Com isso demonstrou que a Terra era bem mais antiga do que se pensava. A mecânica da evolução, entretanto, teria de esperar a resposta de Darwin. E. nesse meio tempo. o tímido Lamarck teve que enfrentar o poderoso Cuvier e sua “Lei da Correlação”. Segundo essa lei, a conformação de um determinado órgão animal permite deduzir a anato-mia dos órgãos restantes. Por exemplo, um animal com chifres e casco tem sem-pre dentição dc herbívoro: répteis com dentes unidos são vegetarianos; com dentes cénicos. Predadores-Tornado célebre pelo princípio da correlação. Cuvier não hesita em apre sentar sua “Teoria dos Quatro Pla-nos de Criação”: 1.0 Plano, cria-ção dos vertebrados; 2.0 Plano, insetos, aranhas e caranguejos; 3.° Plano, mo-luscos; 4.° Plano, vermes. estrelas-do-mar, pólipos. esponjas e infusorios. É a negação total do evolucionismo, já que não admite entre os planos qual-quer ponte de ligação. Brilhante e amigo dos poderosos. Cu-vier acaba condenando Lamarck à miséria e ao esquecimento. Com Dar-win, porém. ele reassumiria a posição dc quem teve a audácia de propor uma explicação das causas evolutivas.

A GRANDE VIAGEM

Descendente de rica familia burgue-sa. Darwin recebeu educação esmerada e. com apenas dezesseis anos de idade. ingressou na Universidade de Edin-burgh. a fim de estudar Medicina. Sem vocação para ser um médico como seu pai e seu avó, abandonou os estudos dois anos depois. Pressionado pela família ingressou no sacerdócio. no Colégio de Cristo. em Cambridge. Mas Teologia também não era do agrado dc Darwin. que acabava dedicando mais tempo a expedições para coleta de mate-

Nas vastas e inóspitos planícies da Patagónia, Darwin pôde conhecer os costumes de indígenas, como os da página ao lado. !sias ilhas Galápagos. analisou a forma, a plumagem e a estrutura do bico das diversas espécies de pássaros Geospiza. E intuiu sua descendência de um ancestral comum, através de irradiação adaptativa. associada aos diferentes habitats das ilhas. Uma das adaptações mais marcantes é a do Cactornis scandens (acima): vive em grandes cactos e, com o bico, procura no interior dessas plantas os insetos de que se alimenta.

rial zoológico que às discussões sobre as essências divinas. Conseguiu, no entanto. graduar-se em 1831. ainda que com má classificação. Em Edinburgh como em Cambridge, Darwin conheceu cientistas de valor. dos quais se tomou amigo, sobretudo de John Stevens Henslow (1796-1861), botânico e geólogo. e Adam Sedgwick (1785-1873), geólogo. Foi Henslow quem o apresentou ao comandante Roben FitzRoy. que esta-va preparando uma expedição marítima ao redor do mundo, no navio Beagle. O jovem Darwin foi aceito no barco como naturalista. mas teve que vencer a oposição do pai e conseguir dele ajuda financeira para custear as despesas nos dois anos de viagem. Acabou fazendo parte de todo o roteiro da expedição. de dezembro de 1831 a outubro de 1836. Visitou as ilhas de Cabo Verde e ou-tras do Oceano Atlântico, as costas da América do Sul, no Atlântico e no Pací-fico. as ilhas Galápagos. Taiti. Nova Zelândia, Austrália. Tasmânia. Keeling. Maldivas, Mauritius. Santa Helena. As censión. Na América do Sul, o Beagle permaneceu cerca de três anos e meio, visitando, entre outros pontos. a Bahia. Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires. ilhas Falkland. Santa Cruz, es-treito de Magalhães. Valparaíso e arqui-pélago de Galápagos. Na autobiografia, Darwin analisa esses cinco anos de viagem como os mais produtivos de sua vida. De fato, durante o percurso, teve a possibilidade de comparar várias espécies animais e vegetais. e assim fortalecer sua crença nas idéias do avó, Erasmus Darwin. e de Lamarck. A evolução configurava-se como a única explicação racional tanto para a diversidade de formas das espé-cies como para a continuidade dessas formas. No começo, Darwin preocupou.se em preparar publicações sobre a geolo-gia das regiões visitadas. tendo divul-gado também uma teoria sobre a forma-ção dos recifes de coral e das ilhas vulcánicas. De cada porto despachava para a Inglaterra o material coletado: plantas, animais. pedaços dc rochas, fósseis. Ao regressar. em fins de 1836. come-çou imediatamente a separar e organi-zar o rico e variado material. No período dc 1838 a 1841 ocupou-se com a secretaria da Sociedade de Geolo-gia. Em 1842, já casado com sua prima Emma Wcdgwood. mudou-se para Dovme. em Rent. Ali permaneceu ate a morte, em 19 de abril de 1882.

NASCE UMA TEORIA

Um ano após a chegada da viagem. Darwin começa a preparar sua grande resposta à evolução: de que forma ela se processa. Em 1839. publica Diátio e Observações, como volume 3 da Narrativa do Viagem. Seguem-se diversas ou-tras obras: Recifes de Coral (1842). Geologia das Ilhas Vulcânicas (1844) e Geologia da América do Sul (1846). De 1846 a 1854. Darwin concentra seu estudo num grupo de crustáceos hermafroditas, os cirripedes (cracas), e publica monografias a respeito. E nova série de obras é produzida Entre elas destacam-se: Sobre a Fertili-zação das Orquídeas pelos Insetos (1862): Variação de Animais e Plantas sob Domesticidade (1868); A Estirpe do Homem e a Seleção Relacionada ao Sexo (1871); A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (1872); Sobre os Movimentos e Hábitos das Plantas Trepadeiras c Plantas Insetívoras (1875): Sobre os Efeitos da Fecundação Cruzada e da Auto-Fecundação no Reino Vegetal (1876).

A superprodução de indivíduos foi um dos fatores a que Darwin atribuiu a evolução: toda espécie animal e vegetal tende a produzir um número de indivíduos bem superior àquele que o ambiente pode suportar: na luta dessa multidão pela sobrevivência. apenas os mais aptos vencem e se reproduzem. É o processo de seleção natural. Na foto acima. a fita de muco que flutua entre as ondas contém milhares de ovos provenientes de um mesmo molusco: a grande parte dos novos seres está, porém, condenada ao massacre. Os seres mais aptos são os que dispõem de bons recursos adaptativos. E o mimetismo é um deles. (Ao lado, formas miméticas de borboletas, em dois ambientes: abaixo. mimetismo numa espécie de peixes.)

Quando o Beagle parou na costa argentina. Darwin encontrou ossos es-branquiçados de bois e cavalas, que pareciam ter sido vitimas de uma seca: perto deles, mais profundamente enter rados, porém, localizou ossos de ani-mais “pré-históricos” — megatérios. milodontes e toxodontes. Segundo Cu vier, aqueles animais teriam sido aniqui-lados por uma catástrofe. Darwin. en-tretanto. buscou uma explicação mais evolutiva Em toda América do Sul existiam formas semelhantes. embora menores: preguiças, tatus. tamanduás: nos pampas viviam o guanaco e a lhama, de pescoço longo: encontrara também o fóssil do macranchenia. de pescoço longo, semelhante ao lhama Para Cuvier, esse animal havia desapa retido sem deixar vestígios. Darwin intrigara-se com esse singu lar princípio “que extingue formas e cria em seu lugar formas semelhantes”. “Se tivesse havido uma catástrofe que aniquilasse toda a vida animal na Amé-rica, a estrutura do globo terrestre teria sido abalada Além disso. o exame da geologia da Patagónia levava a concluir que a configuração da região era o resultado de modificações lentas e gra-duais-. Em setembro dc 1835. Darwin chega às ilhas Galápagos. e tem sua atenção despertada para as características da fauna: animais de uma mesma espécie diferiam de ilha para ilha Percebeu. por exemplo. que existiam diferentes jabu-tis: uns de pescoço mais longo, que habitavam locais relativamente secos e alimentavam-se de cactos arbóreos: ou-tros de pescoço curto e reto, que viviam em regiões úmidas, à custa de vegetação densa e rasteira Em relação as aves do arquipélago. Darwin relata: “O fato mais curioso a ser observado é a perfeita gradação no tamanho do bico nas diferentes espécies de Geospiza (. .). Vendo-se essa gra-dação e diversidade de estrutura num grupo pequeno e intimamente relacio-nado. poder-se-ia realmente imaginar

Produzindo indivíduos diferentes, as mutações fornecem material è seleção: os mu jantes inaptos são eliminados: os capazes sobrevivem e reproduzem-se (acima, pinheiro imitante). É mutação a evolução e transformação de um órgão em outro — do aparelho auditivo em poderoso sistema de orientação. como acontece nos morcegos (ao alto). Também na barata- d’água as paras exercem dupla função: permitem ao animal deslocar-se e oferecem-lhe o vantagem de uma fixação rápida. em qualquer superfície. Isto, graças a um conjunto de ventosas (00 centro). .4 mutação da membrana entre os dedos pode condenar os indivíduos, tornando-os incapazes ou, como acontece nas espécies aquáticas. constituir-se em vantagem do ponto de vista da sobrevivência.

que, devido á pequena quantidade de pássaros neste arquipélago..uma mesma espécie se tivesse modificado, a fim de satisfazer finalidades diferentes… É o primeiro esboço da influência da sele-ção natural na variação. Ao estabelecer um paralelo entre as espécies — animais e vegetais — do arquipélago com as espécies continen-tais encontradas no Chile, Peru e Equa-dor. surpreende-se com a extraordinária semelhança. O mesmo constatara com-parando a fauna e flora das ilhas de Cabo Verde com a fauna e flora africa-nas. E concluiu que as espécies. além de evoluírem, adquirem certas particulari-dada seletivas — forçadas pelo próprio ambiente. Darwin já havia acumulado dados bastante significativos para expor sua teoria da evolução. No entanto, a idéia de entrar em polémica com o mundo científico da época — c de enfrentar o mais terrível adversário. Cuvicr —apavorava-o tanto, que ele decidiu ar mar-se de todos os possíveis argumen-tos — nos campos da Zoologia. Botâ-nica e Paleontologia. Desde 1838 ele manuseava o livro Ensaio sobre os Princípios da Popula-ção, do clérigo inglês Thomas Robcrt Malthus. Nele encontrou a expressão “luta pela existência” e interessou-se também pela tese de que todo ser vivo teria tendência a reproduzira ilimita-damente Interligando os dois conceitos, Malthus declarava que. na natureza, a luta pela existência reprimia o poder de reprodução. Fazendo um levantamento de publi-cações de naturalistas, colheu dados surpreendentes: se todos os descen dentes de um único casal ficassem vivos C se reproduzissem bem, em pouco tempo a Terra não os comportaria. A observação demonstrava que os mais fracos de uma espécie morriam, sobrevi-vendo os mais fortes. Assim, a natureza aprimorava e criava novas variedades pela “seleção natural”, como o homem aprimora as raças de animais domésticos. selecionando-as. Ao estudar as variadas crias do pombo doméstico, por exemplo. Darwin pôde confirmar a grande influência que a seleção natural exerce na variação. Durante vinte anos. Darwin realizou experiências para comprovar suas hipó-teses, derivadas de dois princípios bási-cos: todos os indivíduos de uma gera-ção de qualquer espécie são diferentes entre si: toda espécie animal e vegetal produz um número incomensura-velmente maior de indivíduos que aque-le que o ambiente pode suportar. Em 1856. quando ainda estava cole-tando dados para seu amplo trabalho. recebeu um manuscrito de Alfrod Rus-sel Wallace (1823-1913), o naturalista británico que estudava a fauna das In-dias Orientais. Nele viu exposta uma teoria idêntica à sua, dc que as espécies animais derivam umas das outras atra-vés dc seleção natural. Não houve competição entre os dois evolucionistas. E, a I.° de julho de 1858, Charles Lyell c Joseph Ilooker apresentavam, na Linnean Society de Londres, um trabalho que tinha como titulo: Sobre a Tendência das Espécies a Formar Variedades e Sobre a Perpetua-ção das Variedades e Espécies por Meio da Seleção Natural. Era a síntese dos trabalhos que Darwin e Wallace haviam desenvolvido independentemente.

Os vários esquemas que traçam a evolução, interligando tempo evolutivo e tempo geológico. apresentam ainda muitos elementos especulativos. (No quadro ao lado, os pontos na extremidade de certas linhas indicam extinção da espécie.)

AGNOSTICISMO: A RESPOSTA ÀS CONTROVÉRSIAS

Um ano após a leitura da teoria evolucionista na Linncan Society. Dar-win publica o famoso clássico A Ori-sem das Espécies. Em meio a uma tem-pestade de controvérsias. a edição de 1250 exemplares esgota-se logo no pri-meiro dia. Mas a violenta reação que acolheu o livro prossegue. culminando COM acirrada polemica entre o bispo Sa-muel Wilberforce c Thomas Henry Huxley: de um lado. um religioso relu-tando em aceitar uma história da cria. ção diferente daquela descrita no livro do Génese: do outro. um cientista, ardo-roso defensor do evolucionismo. Fechado em sua timidez. Darwin pre-feria não refutar pessoalmente os ata quer que os defensores da imutabilidade das espécies lhe dirigiam. Legava a outros. sobretudo a Thomas Huxley. esse encargo. “Deixemos cada um ter esperança e fé no que quiser” é uma frase bem sinto-mática do agnosticismo que absorveu Darwin em seus últimos anos de vida. As polémicas sucederam-se, mas a idéia de transformismo. ou de seu sinó-nimo — o darwinismo —. acabou por converter-se cm centro de toda a Biolo-gia do século XIX. Darwin conseguira convencer o mundo da existência e do grande signifi-cado da evolução orgânica. E explicar essa evolução em função de três fatores: seleção natural. diferenças individuais em cada geração e superprodução de indivíduos. O meio ambiente seleciona em cada geração. os seres mais aptos. Em geral. só estes conseguem reproduzir-se. pois os menos dotados são massacrados antes de atingirem a maturidade sexual. Assim. só as diferenças que permitem sobreviver são selecionadas e transfe-ridas à geração seguinte. Darwin não conseguiu, porém. escla reter a origem das diferenças indivi duais, sobre as quais a seleção atua: como o resto do mundo cientifico. tam-bém ele desconhecia o trabalho que Gregor Mendd vinha desenvolvendo sobre hereditariedade. E a explicação foi adiada até a redescoberta. em 1900. do mendelismo.

Defendidos pelas vantagens da cultura. os australopitecos evoluíram para o Honro sapiens. Acima, o pequeno crânio do Zinjantropus. representante desse grupo que os paleontólogos consideram o primeiro verdadeiramente humano. Abaixo, o homem de Steinheim, que precedeu o estágio neanderthalense. antecessor imediato do !fomo sapiens.

Com a publicação de A Estirpe do Homem. Darwin desencadeou a mais violenta onda de protestos da pane dos conservadores. Relutantes em aceitar a dinâmica evolutiva. eles jamais poderiam admitir que a espécie humana tivesse ascendentes animais. Mas. enquanto as polémicas se sucediam e inúmeras caricaturas eram produzidas. a idéia de dar winismo ou transformismo ia tomando corpo. Isso, graças a homens como Hades. (acima). urn dos grandes defensores de Darwin.

Baseada na conceituação integrada da seleção natural com a Genética, a Teoria da Evolução começou então a ganhar seu corpo definitivo. Atualmente. reconhecem-se cinco .processos para a dinâmica evolutiva: mutações génitas, variações na estru-tura e número de cromossomos, recom-binação giniea, seleção natural e isola-mento reprodutivo. As mutações e as recombinações for-necem o material necessário á variabili-dade. Sobre ele atua a seleção natural, eliminando os mutantes inaptos e per-mitindo que somente os capazes sobre-vivam e se reproduzam. E também a seleção que limita o “sentido- evolutivo em função do isolamento reprodutivo, criando barreiras de infenilidade entre indivíduos de espécies muito afastadas.
CULTURA: UM NICHO ECOLÓGICO
Em quanto tempo a evolução se pro-cessa e como situar o homem na escala evolutiva são problemas que ainda desafiam a Ciéncia. Nos vários quadros que traçam as linhas gerais da evolução. estabelecendo um paralelo entre tempo evolutivo c tempo geokigico. existem muitos elementos especulativos. A localização do homem como caso particular do desenvolvimento evolutivo foi, desde o inicio da teoria evolucio-nista — sobretudo depois que Darwin publicou A Estirpe do Homem —, o centro dos mais ferozes ataques dirigi-dos pelos conservadores. Estes não po-diam aceitar que a espécie humana tivesse ascendentes animais. E. muito menos, que fossem gorilas ou outros macacos- Na realidade. fez-se uma certa confusão. proposital ou não. ao afir-mar-se que o homem descende do gori-la: já que ambos são contemporâneos. a verdadeira proposição seria a de indicar para homens e gorilas e outros primatas a mesma faixa de ancestrais comuns. E isso foi feito. Fm seu livro Processos de Evolução

Orgânica. o geneticista norte americano G. Ledyard Stebbins comenta: “Estudos recentes da morfologia e da química comparada de proteínas mos-traram que o !forno sapiens. o chimpan-zé e o gorila se relacionam muito mais estreitamente que qualquer dessas espé-cies com os outros macacos antropói-des: com o orangotango e com o gibão. Aquelas três espécies descendem prova-velmente de um grupo de macacos que eram comuns na Eurásia c na África durante o Mioceno. Os ancestrais ime-diatos do forno sapiens foram os australopitccos. que viveram na Áfri-ca do Norte e na Eurásia. no fim do Plioceno c no inicio do Pleistoceno. A primeira das espécies do gênero //omo. H. erectus, estava disseminada pela Eurásia durante o médio Pleistoceno e. provavelmente. evoluiu em direção ao homem moderno por meio de uma série dc estágios, sem se desmembrar em espécies separadas. As diversas particu-laridade,. que distinguem o homem dos macacos provavelmente evoluíram a taxas um pouco diferentes. Uma das primeiras características humanas a aparecer foi o uso dc instrumentos, que precedeu o aumento do tamanho do cé-rebro e acompanhou a mudança da pos-tura quadrúpede para a postura ereta”. No entanto, o bipedismo não oferece vantagens do ponto dc vista da sobrevi-vencia. Ele apenas liberta as mãos. especializando-as de forma diversa dos pés. na fabricação de instrumentos. A vantagem do bipedismo é, portanto. de nível cultural. E os seres bipcdes conse-guiram sobreviver defendidos pelas van-tagens da cultura que eles criaram. Referindo-se ao homem moderno. Stebbins considera como seu aspecto mais marcante a evolução cultural, e analisa: “Os processos da evolução cultural não são controlados pelos processos biológicos de mutação, recombinação génita c seleção natural. mas pela invenção. desenvolvimento de idéias. aprendizagem, previsão, difusão cultu-ral e seleção consciente”.

 

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